Chandley conta que tinha 22 anos e aguardava ansiosamente o momento em que se casaria com seu melhor amigo, sua alma gêmea, mas que nada disso aconteceu.
Os relacionamentos abusivos nem sempre são fáceis de se identificar, principalmente para quem vive a situação. Segundo especialistas, o “círculo da violência” é um dos principais fatores que fazem com que as vítimas permaneçam dentro dos ciclos de abuso, que normalmente acontecem de formas semelhantes.
A primeira fase, de acordo o Instituto Maria da Penha (IMP), acontece quando a tensão aumenta entre o casal, e o agressor passa a se mostrar irritado com coisas pequenas, consideradas até insignificantes, podendo ter acessos de raiva, além de humilhar a vítima e destruir objetos.
A segunda fase consiste do ato de violência em si, que é quando o agressor “explode”, e sua ausência de limite faz com que cometa a agressão. A terceira fase pode ser chamada de “lua de mel”, que é quando o acusado demonstra arrependimento, tornando-se amável para conseguir reconciliar-se com a vítima.
Na maioria das vezes, as vítimas são dependentes de múltiplas formas de seus agressores, sendo ainda mais difícil se desvencilhar da violência.
Podem ter dependência financeira, situação estimulada muitas vezes pelos companheiros, e emocional, sentindo-se como se fossem completamente controladas após inúmeros episódios de violência emocional e psicológica.
Em 2019, Chandley Brelsford, aos 22 anos, estava para se casar com o homem que acreditava ser o grande amor da sua vida. Em relato ao site Love What Matters, ela explica que queria sentir um amor arrebatador, começando uma nova aventura ao lado de seus entes queridos, mas nada disso aconteceu, já que cancelou o evento três semanas antes da data prevista.
De acordo com a jovem, o homem que tinha escolhido para ser seu companheiro nunca poderia ser chamado de marido, mas precisou de longos quatro anos para se dar conta disso. Quando o conheceu, tinha apenas 16 anos e se sentiu completamente apaixonada, mas passou dois anos acreditando que nada muito sério aconteceria entre eles, até que em 2015 tiveram seu primeiro encontro.
Chandley tinha 18 anos, e a forte sensação de ser escolhida no meio da multidão não demorou a aparecer, como se fosse a garota a ganhar um dos prêmios mais cobiçados. Isso fez com que ignorasse todas as bandeiras vermelhas que começaram a aparecer, como se tivessem uma boa relação.
Mas os ultimatos davam as caras, junto com a faculdade de Chandley em outra cidade, o que complicou ainda mais as coisas. Mesmo assim, todos os fins de semana, ela escolhia dirigir por duas horas e meia para ver o namorado, para isso também precisou arrumar empregos perto da casa dele nos mesmos fins de semana a fim de manter as inúmeras viagens.
Chandley dirigia por horas depois de uma longa semana para conseguir trabalhar e ver aquele que imaginava ser o homem da sua vida. Ela também preparava todas as refeições que eles comiam e realizava as tarefas que ele pedia, sabendo que ele ficaria extremamente bravo se pequenas coisas fossem esquecidas. Era como um desafio, e a jovem sentia que precisava dar o seu melhor para mostrar que estava levando a sério aquele relacionamento.
Nos três anos da faculdade, ela nunca viu nenhum jogo de futebol, não frequentou festas com os amigos nem participou de atividades extracurriculares. Tentando a todo custo provar sua lealdade ao homem que amava, ela nem sequer fazia amigos, porque isso era motivo suficiente para deixá-lo bravo.
Assim que se formou, em 2018, mudou-se para a casa do namorado, e todo o domínio que ele exercia sobre ela se tornou ainda mais forte. Mesmo ansiosa para ter mais tempo com seus amigos e familiares, não conseguia frequentar nenhuma casa nem ver ninguém que queria.
Imaginando que sua volta o deixaria mais feliz, percebeu que o que fazia ainda não era o suficiente e, mesmo trabalhando, sentia-se presa àquela casa.
Foi quando ele a pediu em casamento, e ela conta que aquele era seu objetivo tão esperado. Foram longos anos até que aquele momento chegasse, e ela foi boa o bastante para “conquistar um lugar como sua esposa”.
Extremamente orgulhosa por ganhar um anel de noivado, Chandley sentia que seus objetivos estavam sendo alcançados como casal, teriam uma bela casa, casariam numa linda igreja, frequentariam uma ótima academia e teriam empregos bem remunerados.
Mesmo assim, a sensação de que estava se desfazendo por dentro não foi embora, e percebeu que tudo caminhava para um beco sem saída. O casal agora frequentava a família dele várias vezes por semana, enquanto a dela apenas poucas vezes ao ano.
O homem passou a criticar a maneira como realizava os afazeres domésticos e como estudava para a pós-graduação, sendo que sua sogra frequentemente a via chorando e com os olhos inchados.
Cerca de três semanas antes do casamento, Chandley sentiu que já tinha passado da hora de tentar algo novo.
Depois de um episódio de violência doméstica, ela acabou fugindo pela janela do segundo andar, e seguiu caminhando até uma ponte onde tinham feito suas fotos de noivado. Felizmente, seu pai e sua irmã a acalmaram no dia que seria o mais assustador de sua vida.
Chandley conta que passou tantos anos ouvindo que não era suficiente, que acabou tomando isso como verdade. E agora tem um novo caminho pela frente, o de encontrar valor em si mesma, realizando seus sonhos e vivendo uma vida tranquila.
No dia em que aconteceria seu casamento, a jovem encontrou a fotógrafa e fez fotos sozinha, vestida de noiva, passando a mensagem de que nunca vale a pena sacrificar o que se ama por uma pessoa, independentemente de beleza ou dinheiro.