Ninguém se casa para se separar. Ninguém se une a outro pensando em, futuramente, desatar o laço.
Quando nos apaixonamos e decidimos criar uma família, jamais imaginamos que, um dia, tudo isso pode acabar. Mas pode. E, muitas vezes, infelizmente, acaba. A decisão de terminarou não um relacionamento nunca é fácil e, na maior parte das vezes, só chegamos a essa conclusão depois de um processo doloroso.
Conheço muitas mulheres mantendo um casamento infeliz por medo. Medo de não estar fazendo a escolha certa, medo de os filhos sofrerem com a separação, medo de não ser mais uma família, medo da solidão, medo de não conseguir dar conta de tudo sozinha, medo de não ser aceita pela sociedade.
Mas, no meu caso, o meu maior medo era o de magoar meu pai.
Casei-me muito jovem, no interior de São Paulo, e o grande amor da minha vida sempre foi meu pai, que hoje divide esse posto com o meu filho, Pedro. Meu pai e eu sempre tivemos um “Q” um com o outro, um carinho e uma cumplicidade muito fortes. Venho de uma família tradicional, tive uma criação conservadora, e meus pais estão casados há mais de 40 anos.
Fui o primeiro caso de divórcio na família.
Após quase 2 anos de casamento, saí do interior e vim para São Paulo, onde meu ex-marido já morava. No começo da nossa vida aqui na capital, eu achei que fosse enlouquecer. Passado um tempo, eu tive essa certeza!
Infelizmente, ainda hoje o casamento pesa muito para as mulheres. Pelo menos isso aconteceu comigo, e só posso contar do que vivi. A mulher ainda detém a maior responsabilidade pela casa, pelos filhos, além de trabalhar fora e ajudar no sustento do lar.
Logo que me mudei para São Paulo, e, realmente, passei a morar com meu ex-marido, infelizmente – e sempre vou dizer infelizmente – senti que a união não daria certo. Senti que meu ex-marido e eu não estávamos na mesma frequência, e havia uma boa chance de estarmos desperdiçando nosso tempo juntos. Sentia-me infeliz, com baixa autoestima e muito desanimada, pois o amor e o desejo já tinham acabado. Porém, eu tinha medo de contar para a minha família, e, principalmente, para o meu pai sobre a minha vontade de me separar.
Eu realmente não queria entristecer meu pai.
A minha mãe logo percebeu que meu casamentonão ia bem, mas nada disse ao meu pai. Penso que, assim como eu, a minha mãe também não gostaria que o meu pai tivesse uma filha divorciada.
Comecei a fazer terapia para lidar com a situação, e a terapeuta não acreditava nesta minha dificuldade de conversar com meu pai.
Foram meses de tratamento, até que, um dia, lá no interior, em um final de domingo, meu pai me perguntou o que estava acontecendo. Uma vontade de chorar invadiu meu peito, mas segurei as lágrimas. Meu pai nem precisou especificar o assunto. E eu logo fui dizendo que não dava mais. Lembro-me, até hoje, da respiração do meu pai ao dizer: “Se você não quer mais, assim será.”
Naquele momento difícil, as palavras de um amigo me vieram à cabeça: “Denise, se seu pai souber que você está infelizpor medo de magoá-lo, aí sim ele ficará infeliz.
” As palavras desse amigo, totalmente verdadeiras, deram-me coragem e eu consegui expor os meus sentimentos para o meu pai. Alívio definiu aquele momento, e hoje vejo que o pior erro foi o de não ter colocado um ponto-final no que me fazia mal muito antes.
Dói desfazer uma família? Sim! Dói dividir os filhos nas principais festas do ano? Sim! Porém, a maior dor é viver uma vida de aparências e de infelicidade por medo. Engana-se quem acredita que quem saiu da relação “está numa boa”, e que é o vilão da história.
Quem opta pelo fim da relação vive o luto antes mesmo do término.
Como disse, quando concluí que meu casamento precisava acabar, o meu maior medo era o de magoar meu pai. Contudo, foi meu pai quem mais me deu suporte, e quem esteve ao meu lado em todos os momentos durante e após o divórcio.
Meu pai e minha mãe apoiaram a minha decisão. Apoiaram e bancaram a minha felicidade. Toda separação implica numa queda do padrão de vida, implica em momentos emocionais difíceis, e minha família esteve ao meu lado em todos eles.
Hoje sei do quanto meu medo era bobo e o quanto não me permitiu inúmeros momentos de felicidade.
Não incentivo ninguém a se separar. Muito pelo contrário. Quando alguém me fala que o casamento não vai bem, eu aconselho a fazer de tudo para reconquistar um ao outro. Agora, quando não se está feliz, quando o amor e o desejo acabaram, temos o direito e o dever de irmos em busca da felicidade. Não podemos ter medo de magoar os filhos, a família, ou qualquer outro medo, pois esse sentimento apenas prolonga e acentua a inevitável dor da tomada de decisão.