Quanto mais fragmentada uma pessoa ferida estiver, mais ela vai exigir do outro, até porque ela espera que ele seja a sua tábua de salvação.
Vejo pessoas sangrando, pelas mais variadas razões, buscando um relacionamento para anestesiar suas dores. Todos os dias, eu me deparo com essa realidade, seja pessoalmente ou pelas mensagens que recebo dos meus leitores e leitoras. Eu me acostumei a ler e ouvir: “Ai, Ivonete, eu preciso encontrar alguém para esquecer fulano(a).”
Acontece de a pessoa estar toda ferida, sem nenhuma imunidade emocional, e com a autoestima destroçada. Em suma, uma pessoa com motivos de sobra para buscar ajuda, para aquietar-se, para repensar os motivos de tantas escolhas destrutivas. Em vez disso, essa pessoa decide buscar um relacionamento, com a compreensão equivocada de que o outro será a cura para as suas dores e o complemento do que lhe falta.
Acontece de alguém ferido iniciar um relacionamento sem nenhuma condição para isso, mesmo sem ter o que oferecer.
A expectativa dela é que o outro a faça sentir-se completa, afinal, ela não quer entrar em contato com as raízes das suas dores, ela quer uma anestesia em tempo integral.
Nessa dinâmica, temos todos os ingredientes para uma relação doentia. Pois o outro, por mais que esteja bem-intencionado e inteiro, não vai conseguir arcar com essa demanda emocional tão complexa que esse parceiro ferido traz na bagagem.
Desenhando aqui: a pessoa vai sentir-se asfixiada, e pior, nada do que ela oferecer será reconhecido, nada será suficiente, porque o ferido não se sente digno de ser amado, porque ele tem um péssimo conceito de si mesmo. Sem autoestima, o amor do outro não é recebido, não surte efeito nenhum.
Não existe nada mais desgastante do que se relacionar com alguém que não se sente digno do amor que recebe. É algo muito perturbador. Você faz tudo o que pode, mas a pessoa estará sempre à procura de algo para acusar você, é como estar numa areia movediça.