Seja dentro do próprio indivíduo, entre indivíduos, grupos, instituições ou nações, o conflito é o ponto onde duas forças contrárias se encontram, exigindo uma reorganização das energias e a busca de novos rumos.
Pierre Weil, esse bandeirante do descobrimento humano, que é reitor da Unipaz, instituição de educação para a paz no mundo, oferece-nos um poderoso e útil instrumento de solução de conflitos.
Ele o denominou de Pisar… Pesar (Pisar, sigla composta pelas palavras: percepção > imaginação > sentimento > ação > reação.
Pesar, sigla que representa a solução do conflito, pela substituição do processo de imaginação por uma estimativa, formando uma nova estratégia de ação: percepção > estimativa > sentimento > ação > reação).
Uma reflexão mais aprofundada sobre as duas siglas também nos revela alguns conceitos: o verbo pisar é a ação de pôr os pés sobre, calcar, espezinhar, aplicando o próprio peso sobre algo ou alguém e exercendo sobre ele a ação da gravidade.
O verbo pesar, por sua vez, é uma palavra polissêmica, que tanto pode ter o sentido de causar dor, como de avaliar o peso, ação normalmente feita com o auxílio de uma balança, que simboliza a própria justiça, traduzida em equilíbrio e ponderação.
O termo imaginação refere-se à substituição da ação real por uma série de imagens ou representações mentais, através das quais se busca compreender um acontecimento. Estimativa também é uma palavra polissêmica, que tanto pode significar o ato de avaliar, como o sentimento de estima e amor que uma pessoa tenha por algo ou alguém.
A partir desses esclarecimentos, podemos acompanhar, através de um exemplo, o desenvolvimento do Pisar e do Pesar, numa situação de conflito:
Ocorrência: pela manhã, na padaria, dou “bom dia” para o meu vizinho. Percepção: não ouço nenhuma resposta.
Imaginação: por que ele não me respondeu? Será que ele está aborrecido comigo? Mas, eu não lhe fiz nada! Ele é que é mal-educado.
Sentimento: estou começando a sentir raiva desse vizinho.
Ação: Não vou mais cumprimentá-lo.
Reação do vizinho: não sei o que aconteceu com fulano, que ele não fala mais comigo, quando nos encontramos, pela manhã, na padaria.
Resultado: uma inimizade gratuita, gerada pela falta de diálogo e esclarecimento.
Ocorrência: pela manhã, na padaria, dou “bom dia” para o meu vizinho.
Percepção: não ouço nenhuma resposta.
Estimativa: por que será que ele não me respondeu? Será que ele está aborrecido comigo ou será que está apenas distraído? Não tenho como saber o que acontece dentro de outra pessoa, se ela não me falar.
Estou apenas pressupondo ou imaginando os motivos dele, mas não tenho como saber a verdade, se eu não lhe perguntar. Vou cumprimentá-lo novamente. Talvez eu tenha falado baixo demais.
Sentimento: sinto-me aberto e disponível para continuar a conviver bem com o meu vizinho.
Ação: “bom dia!” (com um sorriso).
Reação: oi, bom dia (com um sorriso). Eu estava aqui, tão distraído, tentando me lembrar do que minha esposa me pediu para comprar, que nem tinha visto você.
Percepção: meu vizinho sorriu para mim.
Sentimento: gosto do meu vizinho e me sinto correspondido neste sentimento de fraternidade.
Ação: é assim mesmo, a vida de hoje é muito corrida (compreensão dos reais motivos do vizinho para não lhe ter respondido).
Reação: cumprimentar o vizinho sempre que se encontrarem.
Como vimos, a chave de solução de todos os conflitos é a estimativa, a qual pode ser traduzida como uma predisposição nossa para estabelecermos relações interpessoais, com base na verdade dita com amor. E isso vale tanto para a resolução de conflitos dentro de nós mesmos, quando nos dispomos a um diálogo aberto, amoroso e verdadeiro, com nossos próprios sentimentos, como para a solução de conflitos com todos aqueles com quem convivemos na família, no trabalho ou na sociedade.