Por que tratamos como estranhos quem já foi importante para nós?
09/12/2021

Em sessão terapêutica, uma paciente relata que esbarrou com o ex-namorado nas dependências da empresa onde ambos trabalham e não respondeu ao seu “bom dia, como vai você?”.

Já vi muitos casos assim, que me deixam um tanto quanto indignado porque, afinal de contas, essa pessoa que se recusa a tratar aquele ser humano que foi importante em sua vida como um estranho está mostrando sua decepção com ela mesma. Sim, com ela mesma, porque, na maioria das vezes, a falência de um relacionamento se deve à projeção que o indivíduo faz no outro e à frustração de não ver realizada sua expectativa.

Você se relaciona com alguém e espera que este entenda perfeitamente suas crises emocionais e seus dissabores, e esteja apto para lhe agradar quando você quer, esteja pronto para lhe atender da forma como você imagina, mas sinto informar: não é assim, isso nunca dá certo, porque a maravilha de uma relação a dois acontece quando as diferenças de pensamentos se complementam e surpreendem a relação, ajudando o outro a crescer e evoluir.

Isso é crescimento mútuo.

É muito diferente de quando você se relaciona com alguém que tem uma diferença abismal com você, seja intelectual, íntima ou social. Nesse caso, é possível que essas diferenças sejam determinantes para o fim de uma relação, mas nem assim o indivíduo deveria ser tratado como um estranho, especialmente se nessa relação houve intimidade, carinho, amor, compreensão.

Então o diálogo aberto e franco, em que você diz o que sente, como se sente, é que garante o sucesso de um convívio pacífico e respeitoso entre ambos.

Deixar de falar só expõe a própria dor e pode humilhar o outro.

Comportamentos neuróticos desencadeiam paranoias. Liberte-se!

Sabemos que a natureza humana, influenciada pela dinâmica atual da vida moderna, insiste em alimentar comportamentos neuróticos, levando a paranoias limitantes, que podem estagnar a vida, não permitindo o amadurecimento e o amor fraternal que a humanidade deveria ter por ela mesma.

Situações conflitantes existem em toda parte da vida, seja no trabalho, no campo familiar, social, e não é diferente nas relações amorosas.

Não ouvir o que o outro tem para dizer para você impede, às vezes, um pedido de desculpas, um ajuste e um entendimento da natureza complexa das relações humanas. Olhar nos olhos e pensar que você está diante de quem lhe serviu por um período podem ajudar a colocar ordem em suas ideias e aprender a não cometer os mesmo erros nas próximas relações.

O ser humano precisa se conhecer, precisa se observar, ver que o mundo oferece escolhas, possibilidades, alegrias, cores e sons, e tudo isso pode estar ali, ao seu alcance, só que você não vê.

Não vê porque, assim como suas projeções no outro foram frustradas, o medo de sofrer e se arrepender de tomar decisões acaba por atrapalhar seu próprio crescimento, portanto, ao tratar uma pessoa com quem conviveu, por exemplo, como estranha, você está negando a si mesmo e a sua vida sendo que, dessa forma, você só vai se afastar mais de sua essência, de seus sonhos, podendo alcançar os níveis mais sombrios da depressão, da ansiedade, dos recalques que podem tornar você uma pessoa sofrida, infeliz e acredite, extremamente chata.

Você deveria ser seu mais importante amigo na vida, mas você se sabota, cria em seu círculo mental uma eterna sensação de infelicidade, lamenta por perdas que nem aconteceram ainda e se torna eternamente infeliz, porque pensa, imagina, cria em sua mente que a felicidade está lá, lá no longe, no interminável futuro, em alguma parte do Universo que ainda não chegou até você. Quebre essa sua verdade a respeito da infelicidade dando oportunidade para a vida, para você, para um olhar.

O futuro começa no momento em que você conclui a leitura deste texto e toma atitudes concretas para a sua vida.

Agir, perseverar, realizar e parar de tratar as pessoas que não fazem mais parte da sua vida como eternos ex, culpados por suas mágoas.

Ao virar as costas para o outro, você está virando as costas para sua história, para você mesmo.

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