Provavelmente, você deve achar que esse papo de ser interessante se resume a lista bizarra que uma boa parte da sociedade dá check, mas posso lhe garantir, é muito mais simples do que isso.
O interesse por alguém geralmente tem como ponto de partida seus valores. O que realmente importa para você, precisa – de alguma forma – estar na outra pessoa. A sociedade chamou de interessante o que na verdade sempre foi projeção. Um homem interessante precisava se encaixar em atributos mínimos.
Mulheres, idem. E nessa história de colocar todo mundo na mesma caixa, a gente esqueceu que projetar no outro algo que não necessariamente temos em nós é uma bela furada. Aliás, é o começo do fim, pois, provavelmente, essa projeção sempre deixa alguém sentindo que poderia ser mais; mais interessante, talvez.
Quando partimos do princípio que relacionamentos precisam ser igualitários, significa que essa história toda de projeção cai por terra e que o que realmente fica é a essência, a verdade, a cumplicidade e por que não dizer verdadeira intimidade.
Psicanalistas, psicólogos e estudiosos já dizem que a maior reclamação no divã é a falta de intimidade. A superficialidade tomou conta de boa parte dos relacionamentos e, nessa altura, discutir política ou levar um novo sabor de sorvete para casa pode dar confusão.
Hoje mesmo falei sobre Bauman e seus tempos/amores líquidos. Será mesmo que nós nos tornamos tão superficiais? Será mesmo que naquela história toda da evolução, de se tornar um humano importante se perdeu? Tenho minhas dúvidas. Evoluímos assim – ou você acha que o primeiro alpinista que alcançou o cume do Monte Everest queria anonimato?
O interesse torna tudo mais profundo, exatamente onde não dá pé e consequentemente usamos a vulnerabilidade como boia. Conhecer alguém interessante vai além dos valores, aliás, provavelmente, não tenha nada a ver com valores, mas sim, com curiosidade. Na quantidade de coisas novas e inesperadas que aquela nova pessoa pode lhe apresentar.
Como bem disse Luiza, em uma das nossas – tantas – conversas por telefone: – Juliana, cadê as pessoas trazendo uma opinião/história/ideia que nunca ouvi? Cadê outros pontos de vista? Cadê aquela sensação de querer conhecer mais? Descobrir mais? Sair mais? Querer mais?
Eu dou risada, mas concordo com a Luiza. A sensação é de ficar brincando nas ondas ali no raso. É divertido, mas não é necessariamente desafiador.
Gente interessante é aquela sensação de alívio, sabe? Alívio em saber que vai ter um próximo café, papo, vinho, encontro. Por que gente interessante não foge. Também não transforma quaisquer segundas intenções em tempestade, até por que, antes de mergulhar mais fundo, a pessoa interessante vai saber exatamente quais perguntas fazer para saber, enfim, se mergulha ou fica no raso.